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Mas e ar quente, direção hidráulica e vidro elétrico?

Joel Leite

15/09/2014 17h34

– Peladão: carros pequenos ganham equipamentos sofisticados, mas não têm itens básicos

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Quem tem mais de 50 anos deve ter convivido com aparelhos de TV em que você trocava os canais num botão enorme. A cada mudança para um dos sete canais era um estalo no botão, que muitas vezes emperrava e você era obrigado a assistir o mesmo canal dias seguidos até a chegada do técnico.

Não era permitido retornar o botão, portanto a mudança seguia a ordem crescente, de forma que, para sintonizar o canal imediatamente anterior, era preciso dar a volta de 360 graus no botão, devagar e cuidadosamente para não o danificar.

Lembrei dessa aberração quando iniciei o test drive com um carro básico. Não, não em 1960, agora mesmo, nesta semana. As montadoras cometem um verdadeiro pecado com as versões chamadas "de entrada" dos seus carros pequenos: "retira" do carro equipamentos banais, indicando que a tecnologia só chegou para quem compra carro topo de linha. "De entrada" quer dizer "o primeiro carro que o consumidor compra na vida".

Certamente algumas montadoras contam exatamente com isso (a ignorância do novo consumidor) para deixar de colocar nos seus carros itens como vidros elétricos, travas, direção hidráulica e ar quente. Veja a lista de itens básicos que os carros básicos não têm.

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Você que está acostumado a dirigir carros com direção assistida, experimente um sem o equipamento: é preciso muito esforço para fazer as manobras. Baliza é uma operação quase impossível numa rua movimentada, porque o motorista corre o risco de atrapalhar o trânsito, tantas são as manobras necessárias para colocar o carro no lugar.

O curioso é que muitas montadoras equipam seus carros pequenos com itens modernos e sofisticados, mas as versões de entrada continuam jurássicas.

São tecnologias que não estão disponíveis nem mesmo nos modelos topo de linha da própria marca e que colocam o produto no mercado com um diferencial importante, destacado na imprensa e usado sem parcimônia na campanha publicitária.

Essa estratégia de marketing eleva o carro a um padrão superior na visão de muitos consumidores. E, de fato, é um ganho importante você ter, por exemplo, num Ka, o sistema de socorro que aciona o atendimento médico em caso de acidente, ou no Uno, o sistema start stop, que desliga o motor quando o carro para, reduzindo o consumo e as emissões.

Ambos os equipamentos são inéditos em carros fabricados no Brasil em qualquer categoria. No caso do socorro a acidentes oferecido pelo Ka, o item não está disponível nem nos importados mais luxuosos. No caso do start stop do Uno, apenas modelos de marcas de luxo, como BMW, Mercedes-Benz, Audi, oferecem o equipamento.

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O Up, da Volkswagen, chegou esbanjando tecnologia, com as versões topo de linha – Red, White e Black – equipadas com sensor de estacionamento traseiro, freios com distribuição eletrônica de frenagem, computador de bordo com dez funções e um sofisticado sistema de som, mas custando uma pequena fortuna (R$ 40 mil) para um carro dessa categoria. Mas a versão de entrada, a Take, não tem nem direção hidráulica nem trava elétrica das portas nem acionamento elétrico dos vidros.

Você lembra daquela manivela que existia nos carros antigamente para levantar e baixar o vidro? Pois é, ela mesma: o Up, o Clio, o Gol continuam tendo esse sistema obsoleto. O Up básico, na verdade, não oferece nem ar quente de série.

Dentre os pequenos, o Ka é um dos mais equipado, tem até ar condicionado e ajuste do volante na versão de entrada, mesmo assim não vem de série com ajuste de altura do banco do motorista e retrovisor elétrico (equipamento que não é oferecido em nenhuma versão). "Quem quiser retrovisor elétrico compra um Fiesta", justificou um dirigente da empresa.

O Hyundai HB20, tido como um carro bem equipado, não tem vidros elétricos, trava elétrica e ajuste do volante.

Embora tenha direção hidráulica e vidros elétricos, o Ônix, da GM, vem sem aparelho de rádio e não tem nem espelho no porta sol. O March, da Nissan, também não tem rádio e nem desembaçador traseiro (vem de série com direção, ar condicionado e vidros e travas elétricos).

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E o Sandero, que tem até ar condicionado de série, não oferece vidros elétricos, ajuste do banco, rádio de série.

O ABS, que nada mais é do que uma evolução do freio, só passou a fazer parte do carro, neste ano, por exigência legal, assim como o airbag.

Será que é preciso uma legislação especial para fazer com que as fábricas equipem os seus carros com sistema de ar quente, acionamento elétrico dos vidros, travamento central, um radinho FM e um espelhinho do porta-sol?

Veja os itens considerados básicos o que as versões de entrada têm de série

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Joel Silveira Leite

Joel Silveira Leite é jornalista e pós graduado em Semiótica e Meio Ambiente. Diretor da Agência AutoInforme, responde pelos sites AutoInforme e EcoInforme. Apresenta o Boletim AutoInforme nas rádios Bandeirantes, Band News e Sulamérica Trânsito. É colunista em várias publicações.

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