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O Mundo em Movimento

China, o retrato de um mercado em crescimento

Joel Leite

26/04/2012 10h53

O Salão de Pequim não corresponde, efetivamente, à grandiosidade do mercado chinês. Embora tenha grandes dimensões, o evento não pode ser comparado aos maiores salões do mundo, tanto pela expressão quanto pelas novidades e pela organização do evento.

O salão chinês é o retrato do momento que o país está vivendo, com uma produção em crescimento para atender o déficit da mobilidade e mostrar poder no exterior. Apesar dos números astronômicos de produção e vendas, eles ainda estão longe de atender às necessidades desse continente de quase 1,5 bilhão de pessoas.

A China está no meio de um longo projeto que prevê o crescimento do país para torná-lo o mais rico do mundo. A distância em relação aos Estados Unidos já foi muito grande. Hoje ela está menor: enquanto o PIB dos EUA caiu para 25%, o da China subiu para 17%. A primeira fase do projeto foi a implantação da infra estrutura. Ao contrário dos paises capitalistas, a China planeja cada passo que dá: primeiro constrói a cidade para depois colocar as pessoas. É comum nascerem dezenas de condomínios de uma vez numa região onde meses antes não havia nada e do dia pra a noite surge um bairro inteiro.

Você anda pelo interior do país e vê enormes avenidas, com pista dupla e três ou quatro faixas de rodagem em cada direção, além de mais duas faixas separadas para o trânsito de bicicletas e motos elétricas. Na viagem de Pequim a Nanjin, que o trem bala cobre os mil quilômetros em três horas, você acompanha cidades nascendo ao longo da ferrovia, centenas de edifícios sendo construídos. Parece que todos os guindastes do mundo estão aqui.

A segunda fase do projeto chinês é buscar a eficiência, uma necessidade imperiosa, já que o país gasta muitos recursos naturais e consome grande quantidade de energia. Por isso, o próximo passo é o controle dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente. Mas essa é ainda uma preocupação incipiente e o Salão de Pequim mostra claramente isso. Questões que estão hoje na ordem do dia nos mercados maduros, como a pauta ambiental, não são prioridades para os chineses.

Diferentemente do que acontece nas grandes exposições mundiais, a questão ambiental está em segundo plano nesta cidade que é comprovadamente uma das mais poluídas do mundo. Embora Pequim, como outras cidades chinesas, tenha grande quantidade de veículos elétricos andando nas ruas (basicamente bicicletas e scooters), o Salão não contempla a preocupação das montadoras no sentido de apresentar propostas para defender o meio ambiente.

Claro que o carro elétrico está presente, com algumas marcas apresentando as suas opções de mobilidade limpa: carros plug-in, híbridos e movidos a célula combustível. Mas não como prioridade. A questão ambiental é colocada em Pequim apenas para marcar posição.

Como foi visto, o mercado chinês tem outras prioridades. Mas, pode ter certeza que, diante dos índices recordes de poluição chinesa, provenientes da produção de energia por termoelétricas de carvão, em breve o país será líder também na luta por um ambiente mais limpo.

Joel Leite, de Pequim

Joel Silveira Leite

Joel Silveira Leite é jornalista e pós graduado em Semiótica e Meio Ambiente. Diretor da Agência AutoInforme, responde pelos sites AutoInforme e EcoInforme. Apresenta o Boletim AutoInforme nas rádios Bandeirantes, Band News e Sulamérica Trânsito. É colunista em várias publicações.

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