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O Mundo em Movimento

Projeto da Toyota salva arara azul no Pantanal

Joel Leite

08/11/2012 11h17

— Três Hilux ajudam a salvar a espécie; região já tem cinco mil indivíduos
(reportagem de José Carlos Pontes)  

Já passava das seis da tarde quando chegamos à fazenda de 53 mil hectares que fica no Mato Grosso do Sul, próximo de Campo Grande, e que abriga o Projeto Arara Azul, que tem a participação da Toyota. Paramos diante de uma palmeira onde estava um casal de arara vermelha. Recepção de gala. Logo à frente uma vara de queixadas comia mangas caídas no chão. Só isso já mostrava que veríamos muita coisa diferente.

Só pra entender do que se trata este projeto, precisamos retornar em 1989, quando a bióloga Neiva Guedes viu uma árvore com várias araras azuis no Pantanal Sul Matogrossense. Foi amor à primeira vista, principalmente porque ela ficou sabendo que a espécie poderia desaparecer. Neiva ficou indignada com a informação. Como pode desaparecer uma espécie tão bonita?

A bióloga começou a pesquisar para o seu mestrado. Foram tempos difíceis, pois ela não tinha como se locomover na região e as informações eram poucas sobre as aves. Amigos apoiaram e ajudaram, até que a Toyota cedeu um veículo Bandeirante para que ela pudesse se locomover no Pantanal. Hoje são três Hilux. O resultado é visível: de 1,5 mil indivíduos, hoje na região são mais de cinco mil araras, sem contar com a conscientização de todos que praticamente acabou com o tráfico destas aves por ali.

No outro dia de manhã, após acordar às 5h30, fomos observar um dia de trabalho da equipe coordenada por Neiva e que conta também com as biólogas Daphne e Kefany, além do César, que está no local faz 14 anos e que conhece todo o Pantanal Sul Matogrossense. Foi uma manhã inesquecível. Primeiro, porque no caminho aos ninhos deparamos com aves que nunca havia visto, veados campeiros, queixas, emas, seriemas e, claro, araras azuis no chão e no ar. Depois avistamos jacarés, raposas (que são chamadas de lobinho), tamanduá bandeira, quatis e capivaras.

Entramos em um capão de mato e logo estávamos diante do primeiro ninho. Daphne se preparou com os equipamentos de escalada e subiu pela árvore até atingir o ninho. Ao observar o seu interior, gritou com alegria:

"Tem um lindo aqui".

Neiva perguntou lá de baixo:

"Qual a idade dele?"

"Dez a quinze dias".

"Está alimentado?"

"Sim".

Depois das informações, um balde azul foi içado e a bióloga colocou com carinho o filhote na vasilha que desceu lentamente para avaliação de Neiva e para que pudéssemos ver pela primeira vez o filhote de uma arara. Um bichinho indefeso, completamente pelado e de olhos fechados. Um ovo que não iria mais eclodir foi levado para a base do projeto. Ainda passamos por mais dois ninhos e no último havia uma coisa não muito comum, dois filhotes em um único ninho. Eles já estavam quase que empenados por completo.

Esta é a rotina desta equipe. Diariamente visitam os ninhos e avaliam o estado de saúde das aves. Hoje quase 300 ninhos naturais são monitorados, além de outro tanto de ninhos artificiais que foram colocados nas árvores e fez um grande sucesso. As araras aceitaram prontamente as novas moradias.

Além desta fazenda, onde está o Recanto Ecológico Caiman, outras fazendas recebem a equipe. São mais de 400 mil hectares na região com a presença das araras azuis, que pelo menos por ali, estão aumentando em abundância. E somente vendo no seu habitat, araras voando nos céus e a dedicação desta equipe é que dá pra entender a importância deste projeto que pode ser conhecido através do site www.projetoararaazul.org.br.

José Carlos Pontes – Campo Grande

 

Joel Silveira Leite

Joel Silveira Leite é jornalista e pós graduado em Semiótica e Meio Ambiente. Diretor da Agência AutoInforme, responde pelos sites AutoInforme e EcoInforme. Apresenta o Boletim AutoInforme nas rádios Bandeirantes, Band News e Sulamérica Trânsito. É colunista em várias publicações.

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